sábado, 1 de janeiro de 2011

Tudo novo... de novo!

   Todo início de ano, as pessoas sentem em seus corações a esperança renascer. É momento de recomeçar. É quando tudo aquilo que não tinha remédio, de repente, encontrasse caminho para a cura. Gosto disso, acho que a vida, às vezes, pode ser muito amarga e nada como um pouquinho de doçura pra dar força pra gente seguir adiante.
   Começaremos o ano com um poema lindo do Carlos Drummond de Andrade. Esse cara é demais. Vou falar melhor sobre ele em outros posts, podem aguardar. Mas acho que o Drummond, no texto abaixo, conseguiu resumir de forma poética e clara o que é preciso fazer pra que tenhamos realmente uma mudança significativa na vida de cada um de nós. 
   Espero que gostem!
   E feliz 2011 pra todos nós! =)

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

(Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.)

Um comentário:

  1. Esse cara é sensacional! Quisera eu ter esta familiaridade com as palavras...

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